Adepto da bola
Se
há algo que me chateia, mesmo muito, é o Benfica não perder! O Sporting não
ganhar é uma coisa, agora os vermelhos ganharem é que me custa. No mínimo o
empate, meia derrota, sim é um facto, mas para mim é meia victória! Esta não
voa no estádio, mas dá-me uma alegria interior tão grande, como aquela que
sinto quando recebo algo das finanças…Infelizmente coisa rara, no que respeita
às finanças!
Em
catraio comecei a ir à bola. Num jogo da 2ª divisão1, fiquei junto a
um individuo, de idade avançada, que conhecia muito bem o bandeirinha.
1. Em tempos, era
a liga de uma bebida qualquer.
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De facto, não conhecia
apenas o homem da bandeira, sabia também a profissão da mãe, os atributos físicos
do pai e, por vezes, fazia ainda referência à irmã. Fiquei fascinado! Estranhamente…
o fiscal de linha nunca respondeu.
Após
alguns anos a frequentar os jogos da liga secundária, resolvi reforçar a dose e
passei a assistir a jogos da 1ª divisão.
Até então, apenas os
acompanhava na telefonia. A emoção era outra, afinal bastava a bola passar a
linha divisória que a agitação do relatador era tal que sugeria golo eminente. No
estádio, era tudo mais calmo. Pelo menos sempre havia menos jogadas de perigo,
isto apesar de ser igual o número de invasões do meio-campo contrário.
Por
falar em invasões, recordo a operação realizada num jogo do campeonato
distrital2.
2.
Também
esta liga, teve o nome de uma bebida.
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Foram vividos momentos
de grande agitação. Tudo começou quando a família do lateral direito Coxerro3
avançou colina abaixo em direcção à respectiva do médio centro, Machacho, que
entretanto afrontava três adeptos, estes com motivação à mini.
3.
Conhecido por todo o norte da freguesia como Pelé Branco.
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Dos
tumultos resultaram danos num guarda-chuva de 12 varas, efeito da repetida
aplicação na lombeira do bandeirinha. Não fosse o aparato policial no local4
e poderia ter acontecido uma tragédia. Afinal o guarda-chuva era uma herança!
4.
Dois
militares e um cabo da GNR, automobilizados por um Land Rover.
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Nos
jogos da liga, cuja bebida paga mais, o espectáculo é outro. Para já, não são
utilizados guarda-chuvas de tantas varas. Em vez disso, existem adeptos que se
fazem acompanhar de uma espécie de bandeira, composta por um mastro com um lenço
da mão preso na ponta5.
5.
Modo
de aplicação e efeito terapêutico idêntico ao do guarda-chuva.
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Notem, porém, que aqui
o uso do guarda-chuva poderia resultar algo ridículo. Para isso contribuem
alguns indivíduos que em pleno Janeiro assistem à bola no estádio em tronco nu.
Sim, no estádio, em casa não pode ser, na medida em que a pele do sofá é de
imitação e deixa nódoa.
Durante
a juventude, inspirado pelo espirito combativo e voluntarioso dos membros das
claques de futebol, resolvi ingressar numa. Para estar à altura das funções,
frequentei os cursos básicos de iniciação à pirotecnia, escaramuças urbanas e
lançamento de projécteis. Durante algum tempo as coisas até nem correram mal.
Excepção feita quando para marcar posição, na falta de outros artigos, eram
arremessadas moedas. Cheguei a investir parte do subsidio de Natal6
num único jogo. Todavia, motivado pelo reumático tive que dar baixa da
actividade. Agora, bola só no sofá e com a t-shirt
vestida.
6.
Na
altura os funcionários públicos ainda tinham Natal.
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Actualmente,
a importância dos jogos da liga principal eleva-se ainda mais quando surgem na
TV programas, em que painéis de comentadores esmiúçam os mais ínfimos
pormenores de um jogo. É no mínimo brilhante, quando um qualquer ex-árbitro consegue,
por exemplo, deslindar um penalti após somente dez repetições em camara lenta e,
de três ângulos diferentes. Mas, mais que delicioso, este assunto, pode ser uma
oportunidade de negócio. Senão vejam. Dos comentários podemos concluir que um árbitro
atinge o auge da mestria lá para os 50 ou 60 anos. Como com essa idade resulta
complicado correr 90 minutos, logo o arbitomóvel seria a solução! Equipado com um
motor ecológico7 permitiria ao árbitro deslocar-se comodamente dentro
das quatro linhas. Mais, em situações de aperto podia ser utilizado para
retiradas estratégias ou, como mais vulgarmente designado, dar à sola.
Para
terminar, nem poderia de ser de outra forma, parabéns à França! Afinal, não é
todos os dias que se consegue um segundo lugar…
7. Todo ele
pintado em verde alface e alimentado a gasóleo agrícola.
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