terça-feira, 6 de dezembro de 2016

Que se lixe o colesterol

Que se lixe o colesterol

Este é o relatado de uma das mais esforçadas passagens da minha existência. Em tempos, fui arrolado para um ginásio! Sim, esse sítio dantesco em que a malta, sem motivo aparente, faz força e transpira. Todavia, não pensem que a motivação para tal desvario tenha sido sacar umas garinas! Não, não foi! O verdadeiro incentivo, foi um esteroide de seu nome colesterol.
Nesta aventura, o desastre assomou logo nos preparativos do equipamento. Pela primeira vez na vida, comprei uns ténis e uns calções para usar nessa actividade, designada de desporto. Até então, apetrechos desse calibre somente tinham sido adquiridos com base na aparência, uma vez que a sua serventia se resumia a idas às compras ou a esplanadas aos sábados à tarde. Além disso, comprei uma t-shirt e uma espécie de bracelete para o Iphone1.

1. Esta foi só para o estilo, uma vez que não possuo tal equipamento.

Em relação à t-shirt, era daquelas com um generoso decote e alças finas. Não fora eu um tipo, digamos esguio, desprovido de qualquer músculo e a dita cuja até teria assentado que nem uma luva. Bom, não foi de todo o caso… Mas pelo menos dava nas vistas!
Para completar o arranjo, adquiri uma garrafa, mas que afinal em linguagem de ginásio se chama shaker. Em relação ao púcaro, shaker, fui confrontado com o facto de ser algo démodé atestar o dito com água. Vai daí, foi realizado um estudo de opinião sobre a mistela mais adequada para atestar o cântaro. Entre as candidatas, estavam todo o tipo de mistelas, desde bebidas energéticas, isotónicas, chás e batidos de frutas. Tudo servia, desde que não fosse água! Após detalhada análise das várias hipóteses, optou-se pelo morangueiro fresquinho. Sendo ele também um sumo, é energético e além disso promove a boa disposição!
Chegado a este ponto, apenas carecia eleger o local para a prática desportiva. A escolha acabou por recair sobre o afamado Health Club, fiat.nessa e não corras. Além de atestado de geringonças, que tecnicamente são designadas de máquinas, tinha balneários com chuveiros e tudo!
Oficializado o alistamento, fui convocado para a avaliação física. Vai daí aparece-me pela frente um sujeito com uma t-shirt fluorescente a dizer PT. Pensei logo: “Oh diabo, até nos ginásios estes tipos andam a impingir a TV cabo!”. Mas, afinal não! O individuo não era da PT, mas sim uma espécie de perito em ginástica com designação em estrangeiro, Personal Trainer! No que respeita à apreciação do estado do esqueleto, a coisa não correu lá assim muito bem… Aliás, não fora o estabelecimento ter desfibrilhador e a coisa teria corrido mal, mesmo muito mal! Mas bom, tal como já sucedera na inspecção militar, fui considerado apto.
No teatro de operações, o equipamento disponível era variado e em quantidade. Lá havia de tudo, ele era bicicletas sem rodas, tapetes que faziam as pessoas andar sem sair do sítio, uma espécie de espreguiçadeiras com umas barras laterais e por ai fora…
Por sua vez, os operacionais no terreno, apresentavam aspeto e atitudes algo estranhas. Alguns havia que aparentavam ter sido insuflados, outros que parecia ter acabado de cruzar um qualquer deserto em dia de sol… tal era o grau de transpiração. Mas, mais estranho, eram os sons que ecoavam pelo recinto. Uma espécie de grunhidos, que num primeiro momento, julguei tratar-se de uma sessão de tortura. Mas não! Afinal era só um individuo, que sabe-se lá porque carga-de-água, estava enfiado debaixo de uma barra apinhada de discos, enquanto gritava para ele próprio: “És o maior…Vai só mais uma…Tu consegues!” Olha, a fazer força também eu! Todavia, na minha modesta opinião, um ser que além de se auto fustigar, fala sozinho, é claramente um caso de estudo. Além do mais, levando em consideração o grau de dilatação das veias, estará eminente um qualquer acidente vascular ou então tem um garrote apertado à cintura.
Após uns minutos a ambientar, lá iniciei a actividade física. Passados 5 minutos de árduo treino, tratei de fazer uma pausa para repor os níveis de nicotina e publicar uma selfie no Trombasbook com a legenda: “a dar no duro”.
Entretanto, amontei-me na máquina designada de passadeira, facto que se revelou uma escolha acertada, uma vez que ao lado desenvolvia actividade aquilo a que podemos chamar de um bom incentivo à prática desportiva! Empurrado por uma postura, chamemos-lhe apenas de exibicionista2, vai de botar a passadeira na velocidade máxima. Tal atitude, no mínimo parva, viria apenas a custar três hematomas e um apagão. Ainda assim, nem tudo foi mau, sempre consegui o número de telefone do incentivo! A compaixão tem destas coisas…

2. Isto para evitar de meter a estupidez ao barulho.

Terminado o treino, recolhi em ombros ao balneário. Tal passagem, não se deveu a actos heroicos, mas sim ao facto de não ter recuperado totalmente os sentidos. Chegado ao balneário, o que deveria ser um retiro de convalescença, apresentava, porém, contornos dantescos! O balneário mais parecia uma praia naturista, sem a atenuante de ser mista. O espaço estava infestado! Um considerável número de criaturas, com as miudezas a arejar, desenvolvia todo o tipo de actividades, deixando para outras núpcias o trajamento.

Conclusão, que se lixe o colesterol! Chouriço só de porco preto!