Tantas mulheres pelo mundo...
Hoje,
revela-se aqui um verdadeiro hino ao amor. A balada de que se fala, atira para
a mais pura das insignificâncias, essas tretas cantadas por criaturas tipo, James Blunt, Roberto Carlos, Júlio Iglésias,
Billy Idol, Onda Choc, etc.
Qual, You're beautiful, O calhambeque ou My love is
your love, qual quê! O mais penetrante romantismo de que vos
falo está escarrapachado no tema intitulado: Tantas mulheres pelo mundo,
parte integrante da, não menos que, fantástica cassete intitulada, conjuntos
típicos. Infelizmente, os artistas que imortalizaram este tema são até
hoje mantidos no anonimato, dado o elevado risco de perseguição por parte da
legião estrangeira de fans, nomeadamente a de guerra.
Na
interpretação desta obra-prima, além do trovador, surge volta e meia um indivíduo
que arremessa umas larachas que, para além de construtivas, são altamente
encorajadoras. Exemplos disso são afirmações do calibre: “E agora vais aturá-la!” ou “Tivesse-la
matado homem!”.
No
que diz respeito à restante letra, esta não se centra nas triviais e habituais
lamechices, antes pelo contrário, apoia-se em temas fracturantes como o vinho, a
terapêutica da pancada e a rojoada.
Além disso, junta ainda alguma paródia, como por exemplo, no excerto em que com
a administração de uma pancada o coração se apaga, mas depois, afinal era só a
fingir! Muito bom mesmo!
Antes
de passar ao justo registo imortalizador da letra é, de todo, inevitável não
tecer algumas considerações acerca do refrão: “Tantas mulheres pelo mundo e o inferno sem ninguém, se morressem parte
delas davam as almas um vintém!”. Simplesmente soberbo! Reparem, numa singela
frase, consegue juntar mulheres, o mundo terreno, o purgatório, a
insignificância da existência humana e, ainda, economia.
Numa
primeira e, talvez, também em segunda e terceira análise, o refrão possa
parecer absurdo e, vá lá, machista! Mas não, através de uma análise mais
cuidada, podemos concluir o objectivo é retratar o santo matrimónio! Ou seja, a
primeira parte alude para a necessidade de escolher uma mulher entre muitas, ou
seja, monogamia. Depois, refere-se à herdade do mafarrico para mostrar o que
espera ao homem depois de consumada a boda. Finalmente o trecho “se morressem parte delas…”, pois é, a
questão é que o homem normalmente bate-a-bota
primeiro, depois de uma vida passada com tostões no bolso!
Posto
isto, avancemos, sem medos, para a degustação da inspiradora letra de Tantas
mulheres pelo mundo.
Sentadinho
à lareira,
com
uma grande borracheira,
dizia
para mim sozinho:
Isso
é o costume!
Vou
deixar a minha mulher,
isso
mesmo é o que ela quer,
vou
deixar de beber vinho!
Não
deixes!
Lá
andei a sair de casa,
tontinho
como estava,
sem
saber o que dizia.
Isso
era vinho!
Ofereci-lhe
pancada,
berrava
em altos gritos,
mas
a mulher não saía!
Tantas mulheres pelo
mundo e o inferno sem ninguém, se morressem parte
delas davam as almas um vintém!
Tinha
as panelas ao lume,
a
cozer rojoada,
devia
ser com certeza!
É
gulosa!
Eu
ia para rapar tudo,
mas
ela deitou-me a luva,
saiu-me
bastante tesa!
Que
vergonha!
Ia
a pegar na vassoura,
para
me defender dela,
senão
estava engolido!
Ai
estavas, estavas!
Ao
dar um jeito caí,
ela
por cima de mim,
estava
tudo perdido!
Tantas mulheres pelo
mundo e o inferno sem ninguém, se morressem parte delas davam as almas um
vintém!
E
estava a ver a maneira,
como
havia de sair debaixo do poleirão,
Isso
era fácil!
dei-lhe
uma forte pancada,
que
ficou atrapalhada,
e
parou-lhe o coração.
Lindo
serviço!
Pus-me
a dar a dar,
a
ver se ele pegava,
e
cheio de compaixão.
Isso
era manha!
De
repente abriu os olhos,
e
então num sorriso… olá brincalhão!
Eu
não te dizia que isso era manha, estás a ver!
Pois
era pá!
E
agora vais aturá-la!
Que
remédio!
Tivesse-la
matado homem!
Isso
é que eu fazia bem!
Tantas mulheres pelo
mundo e o inferno sem ninguém, se morressem parte
delas davam as almas um vintém!
E pronto, ide lá em paz limpar as lágrimas, afinal o amor é lindo!
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