Que se lixe o colesterol
Este
é o relatado de uma das mais esforçadas passagens da minha existência. Em
tempos, fui arrolado para um ginásio! Sim, esse sítio dantesco em que a malta, sem
motivo aparente, faz força e transpira. Todavia, não pensem que a motivação
para tal desvario tenha sido sacar umas garinas!
Não, não foi! O verdadeiro incentivo, foi um esteroide de seu nome colesterol.
Nesta
aventura, o desastre assomou logo nos preparativos do equipamento. Pela
primeira vez na vida, comprei uns ténis e uns calções para usar nessa
actividade, designada de desporto. Até então, apetrechos desse calibre somente
tinham sido adquiridos com base na aparência, uma vez que a sua serventia se
resumia a idas às compras ou a esplanadas aos sábados à tarde. Além disso, comprei
uma t-shirt e uma espécie de
bracelete para o Iphone1.
1. Esta foi
só para o estilo, uma vez que não possuo tal equipamento.
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Em relação à t-shirt, era daquelas com um generoso decote
e alças finas. Não fora eu um tipo, digamos esguio, desprovido de qualquer músculo
e a dita cuja até teria assentado que nem uma luva. Bom, não foi de todo o
caso… Mas pelo menos dava nas vistas!
Para
completar o arranjo, adquiri uma garrafa, mas que afinal em linguagem de
ginásio se chama shaker. Em relação ao
púcaro, shaker, fui confrontado com o
facto de ser algo démodé atestar o
dito com água. Vai daí, foi realizado um estudo de opinião sobre a mistela mais
adequada para atestar o cântaro. Entre as candidatas, estavam todo o tipo de
mistelas, desde bebidas energéticas, isotónicas, chás e batidos de frutas. Tudo
servia, desde que não fosse água! Após detalhada análise das várias hipóteses,
optou-se pelo morangueiro fresquinho. Sendo ele também um sumo, é energético e além
disso promove a boa disposição!
Chegado
a este ponto, apenas carecia eleger o local para a prática desportiva. A
escolha acabou por recair sobre o afamado Health Club,
fiat.nessa e não corras. Além de atestado
de geringonças, que tecnicamente são designadas de máquinas, tinha balneários com
chuveiros e tudo!
Oficializado
o alistamento, fui convocado para a avaliação física. Vai daí aparece-me pela
frente um sujeito com uma t-shirt
fluorescente a dizer PT. Pensei logo: “Oh
diabo, até nos ginásios estes tipos andam a impingir a TV cabo!”. Mas, afinal
não! O individuo não era da PT, mas sim uma espécie de perito em ginástica com
designação em estrangeiro, Personal
Trainer! No que respeita à apreciação do estado do esqueleto, a coisa não
correu lá assim muito bem… Aliás, não fora o estabelecimento ter desfibrilhador
e a coisa teria corrido mal, mesmo muito mal! Mas bom, tal como já sucedera na
inspecção militar, fui considerado apto.
No
teatro de operações, o equipamento disponível era variado e em quantidade. Lá havia
de tudo, ele era bicicletas sem rodas, tapetes que faziam as pessoas andar sem
sair do sítio, uma espécie de espreguiçadeiras com umas barras laterais e por
ai fora…
Por
sua vez, os operacionais no terreno, apresentavam aspeto e atitudes algo
estranhas. Alguns havia que aparentavam ter sido insuflados, outros que parecia
ter acabado de cruzar um qualquer deserto em dia de sol… tal era o grau de transpiração.
Mas, mais estranho, eram os sons que ecoavam pelo recinto. Uma espécie de
grunhidos, que num primeiro momento, julguei tratar-se de uma sessão de
tortura. Mas não! Afinal era só um individuo, que sabe-se lá porque carga-de-água, estava enfiado debaixo de
uma barra apinhada de discos, enquanto gritava para ele próprio: “És o maior…Vai só mais uma…Tu consegues!”
Olha, a fazer força também eu! Todavia, na minha modesta opinião, um ser que
além de se auto fustigar, fala sozinho, é claramente um caso de estudo. Além do
mais, levando em consideração o grau de dilatação das veias, estará eminente um
qualquer acidente vascular ou então tem um garrote apertado à cintura.
Após
uns minutos a ambientar, lá iniciei a actividade física. Passados 5 minutos de árduo
treino, tratei de fazer uma pausa para repor os níveis de nicotina e publicar
uma selfie no Trombasbook com a legenda: “a
dar no duro”.
Entretanto,
amontei-me na máquina designada de passadeira, facto que se revelou uma escolha
acertada, uma vez que ao lado desenvolvia actividade aquilo a que podemos
chamar de um bom incentivo à prática desportiva! Empurrado por uma postura,
chamemos-lhe apenas de exibicionista2, vai de botar a passadeira na
velocidade máxima. Tal atitude, no mínimo parva, viria apenas a custar três hematomas
e um apagão. Ainda assim, nem tudo foi mau, sempre consegui o número de
telefone do incentivo! A compaixão tem destas coisas…
2. Isto para
evitar de meter a estupidez ao barulho.
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Terminado
o treino, recolhi em ombros ao balneário. Tal passagem, não se deveu a actos
heroicos, mas sim ao facto de não ter recuperado totalmente os sentidos. Chegado
ao balneário, o que deveria ser um retiro de convalescença, apresentava, porém,
contornos dantescos! O balneário mais parecia uma praia naturista, sem a
atenuante de ser mista. O espaço estava infestado! Um considerável número de
criaturas, com as miudezas a arejar, desenvolvia todo o tipo de actividades, deixando
para outras núpcias o trajamento.
Conclusão, que se lixe o colesterol! Chouriço só de porco preto!