Olhe, que não!
Algumas
das maiores farsas que conheço, valem-se do vermelho. Bom, quase todas. De
facto, no caso da Apollo 11 a cor era o branco. Todavia, o paraquedas do seu módulo
lunar era às riscas vermelhas!
Escapando
à ficção científica e ao tema futebol, recordo o caso de um lobo que é
submetido a uma espécie de cesariana ao bucho para retirar uma velha do dito. Nesta
estória, cuja personagem principal é o Capuchinho Vermelho, a sua avó após ter
servido de repasto não baqueia e o lobo fala. Enfim, tudo normalíssimo. Aliás,
não fora pelo final, em que o lobo com o bandulho cheio de pedras consegue raspar-se, a coisa quase que passava.
Outras
personagens que abusam do vermelho são os super-heróis. Aos bastante críveis
superpoderes, um grosso número dessas personagens associam às jeitosas fatiotas
em licra, o vermelho. No caso particular do super-homem será, talvez, útil
fazer uma reflexão mais aprofundada acerca das suas cuecas vermelhas. Aqui, o fundamental
nem sequer assenta na adequação do vermelho a tal peça de vestuário. A questão
central passa antes pelo seguinte: que tipo de pessoa veste as cuecas por cima
das calças? Logo à partida, a explicação óbvia sustentada pela pressa na troca
de roupa é, de resto, afastada por se tratar não de um equívoco pontual, mas
sim crónico. Deste modo, o tipo tem uma panca, digamos estranha, que caros amigos,
uma temporada num centro de reabilitação não será de descurar.
Porém,
os anteriores, nem aos calcanhares chegam daquele que considero ser o Santo Graal dos embustes trajados de
vermelho. O Pai Natal! A enorme legião de crentes e, pior, de indecisos acerca
da sua existência, atiram esta matéria para o domínio da higiene mental. Nem
mais. Basta pensar que num popular motor de busca da internet, a pergunta: “O Pai Natal existe?” é repisada na ordem das
60 mil vezes por mês!
Todavia,
admito que aos olhos de uma criança, um individuo barrigudo vestido de
vermelho, barba branca, óculos redondos e rodeado por uns indivíduos intitulados
de Duendes, tudo pareça perfeito. Porém, logo para começar, um olhar mais
atento revela que as sobrancelhas do dito cujo afinal são pretas! Ora, por mais
remota que seja a hipótese de ser apenas um problema capilar, outros detalhes
de tal personagem merecerão certamente reflexão. A nível físico, apontaria
apenas a desproporção do tamanho da barriga relativamente ao resto do corpo. Ora,
não sendo tal volume potenciado por um enchumaço, então caros amigos, o Pai
Natal dá forte no tinto!
Por
outro lado, em Dezembro celebra-se o nascimento de Jesus. Crendo que o seu caso
está na génese da tradição de agraciar os aniversariantes com brindes, então dos
Reis Magos é a responsabilidade. Embora algo lunáticos[1], Melchior,
Gaspar e Baltazar só deram os presentes em Janeiro. Logo, caso exista, o Pai
Natal actuando em Dezembro, começa logo por adulterar uma tradição milenar.
Por
outro lado, do cardápio de prendas dos três Reis não constavam peluches nem brinquedos
barulhentos e irritantes[2]. De
facto, o Messias foi agraciado com incenso, mirra e ouro. Além de ficar fornecido
de artigos para defumação, o petiz ficou também com um belo pé-de-meia. A
finalizar, os Reis Magos, embora com oferendas algo desapropriadas para a idade,
mostraram algum bom gosto, evitando usar trajes vermelhos do tipo Flash Gordon em Belém.
Mantendo-nos
no campo das suposições, ou seja, admitindo que o Pai Natal existe, vamos agora
debruçar-nos sobre o seu meio de transporte. Ou seja, estamos a falar de uma
espécie de carroça puxada por renas e que, imaginem, voa. Facto último, simplesmente,
altamente credível. Curiosamente, nunca tive a oportunidade de apreçar um destes
veículos, por exemplo, à porta de um centro comercial. Sim veículos, o plural
da coisa. De facto, qualquer superfície comercial que se prese, tem um Pai
Natal! Afinal não é um, mas sim vários Pai Natal! Ora, se por suposição um for
verdadeiro, então os restantes são clones ou então meros embustes.
Por
outro lado, será também útil analisar a abordagem do Pai Natal relativamente ao
acesso às habitações alheias, ou seja, a chaminé. Seja, o hipotético
verdadeiro, o clone ou um embuste, um barrigudo e uma chaminé não liga, mesmo sem
labaredas. Mais, existe, no mínimo, na referida abordagem uma clara
discriminação pelas crianças sem lareira.
Resumindo,
se lhe entrar pela casa dentro um individuo vestido de vermelho, será que é o
Pai Natal? Olhe, que não! Provavelmente será um qualquer familiar emigrado, que
comprou, vestiu e nunca mais tirou um equipamento da Selecção Tuga[3]. Contudo,
caso seja dia de bola, não descarte a hipótese de ser um vizinho ou amigo, que durante
o processo de destilação da jornada tenha subido ao seu telhado. Independentemente
do caso, não facilite, ambos são criaturas a internar. Caso o estimado leitor também acredite na existência de tal personagem,
deixe-me dizer-lhe que talvez seja de aproveitar a boleia do seu amigo ou vizinho e vão juntos ao terapeuta.
[1]
Que outra
denominação poderá ser dada a criaturas que, não sendo marinheiros, desatam a
seguir uma estrela?
[2]
Após cinco
minutos de utilização pelas crianças, podem originar crises existenciais e, em
casos mais graves, induzir estímulos suicidas em toda a família e amigos.
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