quinta-feira, 2 de junho de 2016

Olhe, que não!


Olhe, que não!



Algumas das maiores farsas que conheço, valem-se do vermelho. Bom, quase todas. De facto, no caso da Apollo 11 a cor era o branco. Todavia, o paraquedas do seu módulo lunar era às riscas vermelhas!

Escapando à ficção científica e ao tema futebol, recordo o caso de um lobo que é submetido a uma espécie de cesariana ao bucho para retirar uma velha do dito. Nesta estória, cuja personagem principal é o Capuchinho Vermelho, a sua avó após ter servido de repasto não baqueia e o lobo fala. Enfim, tudo normalíssimo. Aliás, não fora pelo final, em que o lobo com o bandulho cheio de pedras consegue raspar-se, a coisa quase que passava.

Outras personagens que abusam do vermelho são os super-heróis. Aos bastante críveis superpoderes, um grosso número dessas personagens associam às jeitosas fatiotas em licra, o vermelho. No caso particular do super-homem será, talvez, útil fazer uma reflexão mais aprofundada acerca das suas cuecas vermelhas. Aqui, o fundamental nem sequer assenta na adequação do vermelho a tal peça de vestuário. A questão central passa antes pelo seguinte: que tipo de pessoa veste as cuecas por cima das calças? Logo à partida, a explicação óbvia sustentada pela pressa na troca de roupa é, de resto, afastada por se tratar não de um equívoco pontual, mas sim crónico. Deste modo, o tipo tem uma panca, digamos estranha, que caros amigos, uma temporada num centro de reabilitação não será de descurar.

Porém, os anteriores, nem aos calcanhares chegam daquele que considero ser o Santo Graal dos embustes trajados de vermelho. O Pai Natal! A enorme legião de crentes e, pior, de indecisos acerca da sua existência, atiram esta matéria para o domínio da higiene mental. Nem mais. Basta pensar que num popular motor de busca da internet, a pergunta: “O Pai Natal existe?” é repisada na ordem das 60 mil vezes por mês!

Todavia, admito que aos olhos de uma criança, um individuo barrigudo vestido de vermelho, barba branca, óculos redondos e rodeado por uns indivíduos intitulados de Duendes, tudo pareça perfeito. Porém, logo para começar, um olhar mais atento revela que as sobrancelhas do dito cujo afinal são pretas! Ora, por mais remota que seja a hipótese de ser apenas um problema capilar, outros detalhes de tal personagem merecerão certamente reflexão. A nível físico, apontaria apenas a desproporção do tamanho da barriga relativamente ao resto do corpo. Ora, não sendo tal volume potenciado por um enchumaço, então caros amigos, o Pai Natal dá forte no tinto!

Por outro lado, em Dezembro celebra-se o nascimento de Jesus. Crendo que o seu caso está na génese da tradição de agraciar os aniversariantes com brindes, então dos Reis Magos é a responsabilidade. Embora algo lunáticos[1], Melchior, Gaspar e Baltazar só deram os presentes em Janeiro. Logo, caso exista, o Pai Natal actuando em Dezembro, começa logo por adulterar uma tradição milenar.

Por outro lado, do cardápio de prendas dos três Reis não constavam peluches nem brinquedos barulhentos e irritantes[2]. De facto, o Messias foi agraciado com incenso, mirra e ouro. Além de ficar fornecido de artigos para defumação, o petiz ficou também com um belo pé-de-meia. A finalizar, os Reis Magos, embora com oferendas algo desapropriadas para a idade, mostraram algum bom gosto, evitando usar trajes vermelhos do tipo Flash Gordon em Belém.

Mantendo-nos no campo das suposições, ou seja, admitindo que o Pai Natal existe, vamos agora debruçar-nos sobre o seu meio de transporte. Ou seja, estamos a falar de uma espécie de carroça puxada por renas e que, imaginem, voa. Facto último, simplesmente, altamente credível. Curiosamente, nunca tive a oportunidade de apreçar um destes veículos, por exemplo, à porta de um centro comercial. Sim veículos, o plural da coisa. De facto, qualquer superfície comercial que se prese, tem um Pai Natal! Afinal não é um, mas sim vários Pai Natal! Ora, se por suposição um for verdadeiro, então os restantes são clones ou então meros embustes.

Por outro lado, será também útil analisar a abordagem do Pai Natal relativamente ao acesso às habitações alheias, ou seja, a chaminé. Seja, o hipotético verdadeiro, o clone ou um embuste, um barrigudo e uma chaminé não liga, mesmo sem labaredas. Mais, existe, no mínimo, na referida abordagem uma clara discriminação pelas crianças sem lareira.

Resumindo, se lhe entrar pela casa dentro um individuo vestido de vermelho, será que é o Pai Natal? Olhe, que não! Provavelmente será um qualquer familiar emigrado, que comprou, vestiu e nunca mais tirou um equipamento da Selecção Tuga[3]. Contudo, caso seja dia de bola, não descarte a hipótese de ser um vizinho ou amigo, que durante o processo de destilação da jornada tenha subido ao seu telhado. Independentemente do caso, não facilite, ambos são criaturas a internar. Caso o estimado leitor também acredite na existência de tal personagem, deixe-me dizer-lhe que talvez seja de aproveitar a boleia do seu amigo ou vizinho e vão juntos ao terapeuta.



[1] Que outra denominação poderá ser dada a criaturas que, não sendo marinheiros, desatam a seguir uma estrela?
[2] Após cinco minutos de utilização pelas crianças, podem originar crises existenciais e, em casos mais graves, induzir estímulos suicidas em toda a família e amigos.
[3] Inclui barrete com guizos.

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